Entre as muitas contribuições que
o deu ao nosso país (literatura, petróleo), Monteiro Lobato, o gênio que
escreveu as obras do Sitio do Pica-Pau Amarelo, foi também um industrial, dono
de uma gráfica. Sua mente brilhante já identificava, em 1948, a importância da
identificação do papel de todas as partes interessadas para o sucesso da
Organização. O texto abaixo é uma aula sobre esse assunto deste gênio da nossa
literatura:
Apelo aos nossos operários
Toda empresa industrial, que se
respeita e pretende desenvolver-se cada vez mais, deve basear-se nos seguintes
princípios:
1º) O verdadeiro objetivo de uma
indústria não é ganhar dinheiro e sim, bem servir ao público, produzindo
artigos de fabricação conscienciosa e vendendo-os pelos preços mais moderados possíveis.
A indústria que se norteia por estes princípios nunca para de crescer, nem de
desdobrar-se em benefícios para todos quantos nela cooperam. Torna-se uma obra
de paciência, consciência e boa vontade – três elementos sem os quais nada se
consegue no mundo.
2º) Uma empresa industrial
depende da cooperação de três elementos: os diretores, os operários e o
consumidor. Sem o concurso destes três fatores a indústria não pode subsistir.
Assim, os diretores, os operários e o consumidor funcionam como sócios da
empresa e nessa qualidade têm direito á participação nos lucros.
O sócio-consumidor participa dos
lucros, recebendo artigos cada vez mais caprichados e por preços cada vez mais
baixos. A indústria que procura lesar esse sócio, impingindo artigos malfeitos
e caros, não é indústria, é pirataria.
O sócio-operário participa dos
lucros sob forma de constantes aumentos de salários. A indústria, que não sabe
ou não pode proporcionar este lucro ao sócio-operário, não cumpre a sua alta
missão.
O sócio-capitalista participa dos
lucros sob forma de dividendos razoáveis. Ele forneceu o capital necessário à
montagem de indústria e tem direito a uma remuneração proporcional.
3º) Os diretores da empresa fazem
parte do seu operariado, com a única diferença que lhes cabe o trabalho mental
da organização e da coordenação. A eles incumbe promover, com inteligência e
segurança, a venda dos produtos, de modo que nunca falte trabalho na fábrica e
que, pela boa direção dos negócios, os três sócios aufiram os lucros a que têm
direito.
Mas a todo o direito corresponde
um dever. O dever do sócio-capitalista é não desprezar os outros sócios, querendo
tudo para si; é contentar-se com uma quota justa, que não sacrifique o
sócio-consumidor nem o sócio operário.
O dever do sócio-operário é dar à
empresa a soma de trabalho que, ao nela ser admitido, se comprometeu a dar.
Tanto lesa a indústria e a aniquila o mau patrão como o mau operário. Por mau
operário entende-se todo aquele que trabalha de má vontade, procurando nas
horas de oficina “encher o tempo” em vez de produzir. O operário que assim
procede prejudica a si próprio, a sua família e a sociedade em que vive. Se
todos fizessem o mesmo, que sucederia? A empresa cessaria de dar lucros, teria
de baixar os salários e, por fim, fechar as portas, privando de trabalho
inúmeras criaturas humanas.
Precisamos, não nos esquecer
nunca de que o trabalho é a lei da vida. Sem trabalho não se vive. Tudo que na
Terra existe a mais da natureza é produto do trabalho humano. Só o trabalho
pode melhorar as condições de vida dos homens. Se assim é, nada mais
inteligente do que trabalhar com alegria, consciência e boa vontade.
Nas empresas industriais de alto
tipo, o salário é uma forma prática de dar ao sócio-operário a sua parte nos
lucros da produção. Mas como há de uma empresa auferir lucros suficientes para
isso, se o operário produz pouco e de má- vontade? Quem paga o salário não é o
capital. Este apenas fornece as máquinas. Quem paga o salário é a produção, o
que vale dizer que o operário se paga a si próprio. Ora, se assim é, quanto
maior, mais eficiente, mais econômica e rápida for a produção, mais os lucros
avultam e maiores serão os salários. Como pode pretender melhoria de salário o
operário que produz mal, se o salário é uma consequência de sua produção?
A economia de tempo e material
representa lucro e aumento de salário. Quem pode fazer um serviço em uma hora e
o faz em duas; quem mata o tempo em vez de produzir; quem dá dez passos em vez dos
oito necessários; quem espicha a sua tarefa; quem se esconde atrás de uma
porta; quem maltrata uma máquina; quem estraga uma folha de papel; quem perde
um minuto que seja de trabalho lesa a empresa e lesa, portanto, a sim próprio.
No fim do ano, a soma desses pequenos desperdícios representa muito. A empresa
que consegue evitá-los habilita-se a beneficiar ao público com melhoria de
preços e ao operário com melhoria de paga.
Trabalharemos, pois, com amor e
boa vontade, conscientes de que somos um organismo capaz de ir ao infinito, se
todas as células cooperarem em harmonia para o fim comum. Podemos nos
transformar numa empresa que nos orgulhe a todos – e a todos beneficie cada vez
mais. Para isto, o meio é a preocupação constante de produzir com o mais alto
rendimento em perfeição e presteza.
Quem não pensar assim prestará um
verdadeiro serviço à empresa, ao público e aos seus colegas, retirando-se.
Nossa empresa saiu do nada, é filha de um modesto livrinho e tendo vencido mil
obstáculos já faz honra a São Paulo. Mas devemos considerá-la apenas como um
início do que poderá vir a ser. Está em nossas mãos torna-la um jequitibá
majestoso a cuja sombra todos nós possamos nos abrigar – nós e mais tarde
nossos filhos. Mas, se não trabalharmos com boa vontade e consciência do que
estamos fazendo, o jequitibá não assumirá nunca a majestade que tem na floresta
e não dará a sombra de que todos precisamos.
Fonte: adaptado do Livro TQC –
Controle da Qualidade Total no Estilo Japonês. Vicente Falconi Campos, 1999, e http://www.hnehrer.com.br/pilulas07052005.html.
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