É cada vez mais comum encontrarmos pessoas que se dedicam ao trabalho, são reconhecidas como competentes por seus pares, recebem uma polpuda remuneração e mesmo assim não se sentem realizadas. Para algumas delas talvez falte cultivarem a chamada Inteligência Espiritual. Mas, o que isto realmente quer dizer?
Os primeiros testes QI (Quociente de Inteligência) foram criados pelo francês Alfred Binet e aperfeiçoados pelo americano Lewis Terman no início do século XX com o propósito de testar as capacidades verbal e lógico-matemática de crianças em idade escolar, pois tais habilidades já eram tidas como imprescindíveis para o sucesso acadêmico.
Durante as décadas seguintes testes desta natureza foram aprimorados e sua adoção chegou às mais diferentes áreas – mesmo com questionável eficácia – até que Howard Gardner alterasse os rumos da história com a antológica teoria das Inteligências Múltiplas lançada em 1985 na qual descreveu, além das capacidades típicas do QI, outras até então desconhecidas, como a espacial, a musical, a cinestésica, a interpessoal e a intrapessoal.
Todavia, nos anos seguintes Gardner não conquistou a atenção do grande público e ainda teve de presenciar o conterrâneo americano Daniel Goleman ser alçado ao status de guru mundial em 1995 com o best-seller Inteligência Emocional (QE), no qual defendeu que todos nós precisamos desenvolver o autoconhecimento, a empatia e controlar as emoções nos relacionamentos com as pessoas. Óbvio ululante hoje, mas um alívio e tanto para quem tinha dificuldade em matemática e pelo menos vivia rodeado por amigos.
A partir de agora começaremos a olhar com atenção uma terceira inteligência: a Espiritual (QS). Estudos científicos conduzidos recentemente revelaram que há uma área no cérebro chamada “Ponto de Deus”, que é responsável pelas experiências espirituais e, simultaneamente, por acionar a necessidade do homem em buscar os porquês de sua vida.
O conceito não tem a ver com o quanto de devoção e fé em Deus você conta e sim com o seu estado de espírito, a forma de enxergar as coisas e a maneira de agir frente a elas. É claro que muitas pessoas com alto nível de Inteligência Espiritual são dotadas de grande religiosidade, mas aquelas que professam uma fé podem não tê-la como também alguém que se declara ateu é capaz de desenvolver um respeitável Quociente Espiritual.
Segundo a física e filósofa Danah Zohar, uma das principais expoentes da teoria, é por meio desta inteligência que aprendemos a ser flexíveis, a lidar com experiências negativas e a enfrentar o medo e a dor. Que nos deixamos inspirar por ideias e valores, questionamos os objetivos a serem alcançados e nos tornamos relutantes em prejudicar o próximo. Portanto, o QS está relacionado à necessidade humana de ter senso de finalidade e direção pessoal.
A péssima notícia é que a Inteligência Espiritual não é valorizada em nossa sociedade moderna. Desde pequenos somos orientados a pensar a vida de maneira prática e a resolver os problemas objetiva e rapidamente, relegando a jornada pelo autoconhecimento a uma esfera inferior quando a mesma poderia facilitar – e muito - a busca por perguntas e respostas que ajudam a resolver as coisas do dia a dia.
Enquanto isto, a boa notícia é que se você percebe que não tem dado muita bola para esta dimensão, segundo Zohar é possível elevar o seu Quociente Espiritual cultivando dez qualidades: a prática do autoconhecimento, a orientação por valores e ideais, a visão holísticadas coisas e a análise das situações num contexto amplo, bem como suportando os obstáculos de modo maduro, celebrando a diversidade, atuando com independência, perguntando sempre o “por quê?”, sendo espontâneo e exercitando compaixão.
Autor:
Wellington Moreira
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